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Os desafios em tempos de fake news

Os desafios em tempos de fake news

A utilização de mentiras para manchar imagens, carreiras e chamar atenção é um comportamento que sempre esteve presente na sociedade como ferramenta de manipulação. A diferença de seu emprego na contemporaneidade está nos novos formatos de propagação, alavancados pela evolução da internet e das atuais possibilidades de contato com públicos distintos. Por meio das redes sociais e plataformas de mensagens instantâneas, uma imagem com teor pejorativo, um boato ou um vídeo editado, por exemplo, podem ser espalhados rapidamente por todo o mundo, com auxílio de perfis robôs ou dos próprios usuários, no que se tornou conhecido como fake news.

De origem inglesa, consta no dicionário Merriam-Webster que a expressão é usada desde o final do século XIX. Ainda assim, o termo somente ganhou destaque internacionalmente após ser utilizado com maior regularidade durante a eleição norte-americana de 2016, quando veículos de verificação de informações detectaram conteúdos duvidosos e sensacionalistas sobre os candidatos Donald Trump e Hillary Clinton. Dois anos depois, o cenário de incerteza e alerta chega ao Brasil, em um contexto de intolerância e divergências políticas exacerbadas para as Eleições 2018.

Em reportagem publicada no último dia 18 de outubro, a Folha de S. Paulo abordou sobre pacotes de disparos em massa de mensagens no WhatsApp que estariam sendo contratados por empresas, com valores que chegariam a R$ 12 milhões, com objetivo de espalhar informações prejudiciais e falsas na semana anterior ao segundo turno. A reportagem ampliou a discussão nos últimos dias, bem como desencadeou investigações. Ainda no período pré-eleição, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia aumentado o debate e procurado medidas na tentativa de coibir as fake news, inserindo novas ações ao longo do processo eleitoral. No entanto, o assunto ainda se mostra desafiador para o Brasil e mesmo para países como os Estados Unidos.

Independentemente do tamanho da informação enganosa, seu conteúdo pode prejudicar diretamente as pessoas também no dia a dia, como foi o caso de Fabiane Maria de Jesus em 2014. A dona de casa faleceu após ser espancada por moradores de Guarujá (RJ), que a confundiram com outra criminosa devido a informações publicadas em uma rede social.

A comunicação encontra-se em uma conjuntura de atenção. Seus profissionais são demandados por maior cautela e investigação quanto ao que será publicado. No dia a dia, o papel do cidadão na hora de checar também é importante, visto que as notícias enganosas chegam mais facilmente ao público, como afirma o estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT): as fake news são propagadas 70% mais rápido que as informações verdadeiras. Em artigo anterior, sugerimos três perguntas a serem feitas que ajudam a evitar a propagação de notícias falsas.

Ainda que seja preciso intensificar a atenção com os materiais publicados, empresas de comunicação que fazem checagem de qualidade e que comprovam as informações com dados e fatos tomam a liderança no mercado, como veículos modelos para quem busca se atualizar diariamente com notícias verídicas. No entanto, por não serem compostas apenas de informações deturpadas, mas também possuírem verdades misturadas em sua composição, o maior desafio na batalha contra as fake news não é somente a checagem de dados, mas como reduzir o impacto delas na sociedade.

 

Victor Lisita*

*(aluno do curso de jornalismo integrante do programa de estágio supervisionado da Universidade Federal de Goiás – UFG)